terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

esboço sobre o vazio

nao se cale, nao me calo, diante do vazio que a falta tras
nao se iluda, nao vai completar-se em esperas, em cancelas, onde ja nao me iludo mais
e o vazio, onde mora, onde és? 
por que migalhas segues plantadas com teus pés
as vezes parece uma ode ao desconhecido
e nao nos resta palavras pra esboçar
indescritivel, indefinido, nao sabemos onde mora
mas pre-sentimos que está
e nao se ausenta
o vazio do amor, do grafite faltando na lapiseira
da caixa d'agua esvaindo-se na torneira
gota a gota
e empecilhos martirios, objetos vívidos
que assumem formas pra nos assombrar
conta a gota que resta, que falta na taça para se afogar
se afogar de vazio
nele insisto
nao adianta relutar
e o som do vazio, estribilho, que aforismos de mim declama
na palavra vazia
que se enche de mim e de ti, que nao sei onde estará
no proximo passo, na proxima pagina
que permite, enfim, o vazio se rechaçar.

Bruno Mendes

calor escaldante

calor escaldante
quando o sol torra a moleira e delira um caminho errante
estrada contagiante, passamos por ela de relance
e rola o suor pela testa, e nao se contrange

fogo escaldante
quando o corpo cala e queima, e brota na pele as vicissitudes de um mar andante
sintoma ou desejo, encontramo-nos neles, deles
e solta o que vem pela fresta da boca, e nao se constrange

espera escaldante
quando o tempo paira no ar e derrete os relogios inertes, a espera de uma hora errante
caleidoscopio do tempo, vivemos a margem dele, nele, transfigurantes

palavra escaldante
quando queima, arde, invade, foge, morre, rebenta, atormenta e nos esconde
palavra em papel que nao vaza, na tela, uma pintura vibrante, que fala, e emana um calor que se expande

calor escaldante.

Bruno Mendes


http://www.youtube.com/watch?v=K8q95gSnLTs


chico e milton...

milton, pra mim, numa de suas melhores interpretaçoes... emanando a voz inquieta pelo universo sem fim...

deliciem-se...

é de arrepiar...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

quando a alma anima meus abismos

quando a alma enceja meus abismos
escrevo
escrevo de dor
de nao conter mais em meus olhos o vigor da paisagem e desejar a uniao com seu sabor
e me refresca o furor do calor que emana do fundo de minhas terras e torna a paisagem tremula
quando a alma vigora meus abismos
escrevo
escrevo de amor
de nao poder mais em meus olhos o sorriso que minh'alma habitara
o frescor de uma melancolia lugubre de minhas pernas que tocam o caminho pelo ar
quando a alma explora meus abismos
escrevo
escrevo de rancor
de nao devorar mais tais beneficios com meus olhos que agora abrigam o vazio
quando a alma encerra meus abismos
escrevo
escrevo de calor
nas maos, na veia, nos olhos, que precisam re-voltar-se ao anterior pra continuarem enxergando, cada um em seu rumo
quando a alma chora meus abismos
escrevo
escrevo de torpor
de nao poder mais a lagrima que hidrata meu olhar como a um solo, latejando pela falta
quando a alma encontra meus abismos
escrevo
escrevo de horror 
de nao conter meus olhos viciados em abrigos que ja foram, e jaz despedaçados pelo tempo
quando a alma enterra meus abismos
escrevo
escrevo de sono
de botar meus olhos em repouso e naufragar atento ao seu dispor

mas quando a alma ignora meus abismos
escrevo
escrevo de pavor
por meus olhos nao parecerem mais tao meus a se despetalar com os seus

quando a alma entende meus abismos

Bruno Mendes

domingo, 26 de fevereiro de 2012

minha vida por um fio

minha vida sê e está por um fio
de telefone
de esperança
de espera
de realidade
de ilusao
minha vida está e sê por um fio
pavio curto, que nao demora ter gratidao
vela apagada, vela queimada, vela acesa
sempre por um fio
e um frio na espinha que ja nao me queima
emblema
um fio de cabelo em contato com a mini borboleta preta
que pousa, serena, faz circulos e deixa o fio
um fio de tristeza, plena, que rodeia e deixa frio
um fio de pavio que esta prestes a queimar
o fio da navalha onde repousa meu caminhar
um fio de partida, de chegada ou despedida
um fio
um fio que une a famia
um fio que ha desune
um fio puchado no banco detras na conduçao
que arrepia os sentidos
e faz olhar pra tras 
consternaçao por sentir que se está vivo
um fio de muralha que me separa da realidade da ilusao
um fio de bala puchada, pra por na agua e ver se esta no ponto
um fio de barba, branco, solitario
um fio de raiva morna, que mantem  a temperatura estatica
um fio de episodio de repetiçao
um fio de fé
nas palavras que se vao
se vao palavras
no fio da minha mao
que se conecta com o frio da comunicaçao
de escrever pra estar vivo
e padecer de um fio
de migalhas
que tentam, nao em vao
encher o pandu da harmonia
que é o fio perseguido pra permanecer sao
que assim esgota a rima 
que revelou-se contestaçao
de um momento de por pra fora
duras e amargas: conclusao
que a vida ha de ser por um fio
na corda bamba a repetiçao
de acordar e parecer que está vivo
no fio de loucura 
que esse...
nao acaba nao.

Bruno Mendes

sábado, 25 de fevereiro de 2012

eu só uso as palavras para compor os meus silencios...
manoel de barros

sobre amores e frutos

eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida... daquelas, que a gente arranca um pedaço e ve secar, com vontade e sem fome pra continuar.
matando a sede na saliva... olhamos pro fruto de nosso abandono e ele enferruja, enrijece.
ser teu pao, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida... que seca, e resseca, e perfuma, como maçã cravejada de cravos.
e algum veneno antimonotonia... pra desenferrujar as proximas frutas que deixaremos pairar, no ar, a seco.
e algum trocado pra dar garantia... trocadilhos que permitam novas frutas amadurecerem... pra apodrecerem, impotentes diante de gente.
e algum remedio que me dê alegria... pra pingar nos olhos que sempre voltam a enxergar, onde quer que voce vá... onde quer que voce nao vá.

Bruno Mendes
em meios

em meio a tanta selva, tanta selvageria, de olhares e pudores cristaos, eu queria ler maos, e entende-las. eu queria descreve-las como elas seriam, se trilhassem os rumos sem rumo de sua imaginaçao, que vem e volta, e borda e solta no papel o peso da identificaçao.

em meio a tanta relva, tanto orvalho, eu queria ser a ultima filha do galho, a semente que germinara seus frutos como gratidao. e se a esta semente fosse permitido voar, voaria em passaros com seus voos rasos de sofreguidao, que vem e pousa, abre e voa, e volta pro ramo mais alto da verde constelaçao.

em meio a tanta maquina, tanta empafia, eu queria ser o rei caolho, quando as maquinas faltarem ao exercicio do escrivao... mas prefiro escribas... eles nao precisam de maquinas... so de obediencia e licença poetica, pra devaneios tolos, vaos...

em meio a tanta virtualidade, eu queria escrever de verdade, no papel, caneta e tinta nas maos... mas nao dou conta... isso nao se ve, nao se vende, e se vender, aqui, ou la ou acola, é como prostituir o filho da gente, que sobe muitos morros com os braços envoltos no pao. pao que alimenta.

em meio a tantos fins, encontro palavras afins, pra descrever meu começo. começo lendo, relendo, começo vendo onde tudo vai dar, sem consagraçao. mas escrevo. em meio a tantos mitos, eu meço meus verbos vencidos, ecoando minha solidao.

em meio a cigarros e chocolates, em meio a silencios e a vontades, assim eu prossigo.

em meio a tantas lembranças, em meu meio ha tanto a criança, que vivia em meio a nossa mesma ilusao.

ser poeta sim, ser poeta nao... ser poeta...

em meio a esta e outras festas, de negro, de branco, de bruxo ou de ocasiao, sigo em frente, meio passo pra frente, meio passo pra qualquer direçao... diga nao... que nao sigo oferendas de tropas, que nao deixo oferendas em notas, mas em palavras, em meio a um amontoado de sotaos e subterraneos que me permitem naufragar pleno, minha propria rosa dos ventos, ...

em meio a tantas palavras, estas e outras, quero esconder e refugar minhas penas, que pavao ainda é macho e só penas, em meio a danças pra chamar atençao...

em meio a tantas mazelas, escrevo contando minhas pressas, que sempre, me veem e me vao...

em meio a tanta coisa que foi sim, em vao, eu escrevo, pra saldar minhas queixas, com o soldo que embranquece as madeixas e deixa minha fronte ao meio... meio sorrindo, meio solando... em meio a tantas palavras...

Bruno Mendes

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

poesia sob o ceu alado

eu quero verbo, eu quero palavra
ainda que de em nada
nada em que ainda de
em rascunho de verbo ou palavra

eu quero a ermo, eu quero a rechaça
ainda que o solo drague a palavra
palavra a dragar o solo em que ainda eu plantava
em semente a germinar duma brisa d'agua

eu sou a frio, eu sou a vacuo, tentando romper nosso amor da ausencia
todo o torpor, todo o descuido por mim levado
todo de cantos, feito promessas contra a melancolia que aqui jaz passado

eu sou sadio, eu sou malvado, levando conter nosso lado a lado
nada de dor, nada de amor, nada circulo com meus dedos razos
e quando sofrer, erga as maos para o ceu alado

pedalado.

Bruno Mendes
saindo do buraco cavado no fundo do poço


passo a passo, eu me encaixo, eu me acho, eu me acompanho
solene, soturno, perene
eu me desenlaço do ritmo que fora minha marcaçao
nao sou tarde, nao sou arte, nao sou martir, sou nao mais que propagaçao

de mim mesmo, que me arde, que me ate, que inaugura outra pegada no chao
de si mesmo, nao me espere, que me tape, a boca, a nuca, a pele, a mao
vou pra longe, pra bem longe me banhar d'outros cheiros que nao me reconhecerao
vou pra sempre, vou amiude, vou a galope, montado no sopro do meu coraçao

sou saveiro, sou corsario, sou emissario a espera de documentaçao
sou pra ontem, sou pra tarde, que uma noite me invade em cadencia de perseguiçao
sou valente, sou canario, que aproxima o canto de uma berraçao, de olhos vazados, de assum preto

sou proveito, sou otario, sou caminho e retardatario dos descaminhos que por mim, esvaecerao
sou do povo, jorro em vazos, bebo dos tragos que se queimam e se dao
sou praieiro, sou montanha, que remove as aguas indo e vindo do mar, ou dragado pelo chao

saindo do buraco cavado no fundo do poço.

Bruno Mendes
levantando do buraco cavado no fundo do poço


levantando do buraco cavado no fundo do poço
vejo o raiar do sol com outro cheiro, ja nao preso
vejo o preço que se paga pela pegada descontinua, ardente
vejo o medo que se apega ao estado descontente, inerente, sua companhia

levantando do buraco cavado no fundo do poço
ja nao rezo, peço, aos pés e ao tempo, que encaminhem minha direçao
ja nao calo, falo, contra o vento, as palavras que creio arquitetarem minha redençao
ja nao raso, faço, e bato mao na outra pra deixar a terra no chao

levantando do buraco cavado no fundo do poço
agonia, melodia, transbordamento e satisfaçao
gozo, intervalo, vou marcando o peso do meu maufadado pao

levantando do buraco cavado no fundo do poço
ternura, melancolia, e um sorriso que invadia meu norte, ao sul de qualquer lugar
curvatura, planejamento, sempre um tormento movendo moinhos de vento

levantando do buraco cavado no fundo do poço.

Bruno Mendes

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

falacia

encontrar-se no outro... 
perder-se no outro...
resumir-se no outro...
deixar-se no outro...
buscar-se em alguem...
e quem nao tem? 
encontros, perdas, resumos, saudades, encontros... despedidas...
e quem tem?
falacias...

encontramo-nos no outro quando o outro torna-se o reflexo de nos mesmos...e ilumina de volta, emanando nossa propria luz...
perdemo-nos no outro quando o outro torna-se um reflexo de nossas perdas... e escurece o caminho que a tantos seduz...estrada familiar... dejavu...
resumimo-nos no outro quando ele se queixa de nossas arestas, quando ainda ausentamo-las de tornar-se frestas, de luz, perenes...
deixamo-nos no outro por querermos aquilo que ele tem...e apreende... (nós mesmos)
buscamo-nos no outro por aquilo que nao se entende...só se sente... o latejar da circulaçao que nao se sente...
e quem nao tem? 
pedaços, fragmentos, falas, super poderes, faltas...
e quem tem?
enlace... e desenlace, e amasse e desamasse...
mas o papel, nunca as palavras, essas nao permitem serem passadas...
desbotam o olhar de quem vê, encarnam o amarrotado de quem sê...
e doam-se, amargamente, para o castigo da palavra de quem lê...

falacia

bruno mendes

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

perdoem-me nobres leitores, a catarse foi demais...
soltei diversos poemas duma vezada so por ansiedade de ver o filho saindo da sala de parto...
vivo...rebento...
mas tenham calma... 
deixemos a angustia do agir para o verbo que voz fala, e que por vezes cala... leiam cada um ao seu tempo...
e me digam o que acharam...
no aguardo

o humilde escritor que se falha... e se fala...
tropeços

sempre tropeço nos caminhos onde sei
que restaram pedaços do amor que tropecei
profundidades e um espelho a sustentar
a minha imagem que caiu do teu olhar

gota d'agua, mil caminhos, mil moinhos
e uma estrada que se esconde circular
caminhos onde andei
e nao cansei de tropeçar

tropeço letras, tropeço emendas, tropeço tudo
e no instante de partir vou tropeçar de novo
tropeçar no meu destino, que até aqui me fez de bobo
(confesso, tropeço, de novo, mas sem problemas)

confesso que os tropeços, sempre os mesmos
amplificaram os caminhos onde passo
e escrevo meus tropeços numa folha em que me inscrevo e em que me amasso
(cansei de tropeçar)


Bruno Mendes
parece lagrima

alguns versos parecem lagrimas
e verdadeiramente o sao
quando nao digo o que ficou
do sentido que logo ali retornou
pra me re-provar o abastado efemero da solidao
e do amor que te dava a mao
e caminhava com voce, a ermo, sem direçao
nao gosto de coisas que rimam
parece que me desanimam
e amor rimar com dor é uma consolaçao
de uniao
entre o que se foi e está
entre o que houve e o que nao ha
ao seu pesar ou seu contentamento
eu sigo rebento
como carvao no cio da mata
e pra que cesse logo esse tormento
eu rebento
como um vulcao alheio em palavras
e na constriçao desse momento
eu rebento...

disse a lagrima àquele que só visa conte-la
e como te-la, nessa prisao que olha o firmamento?
eu rebento.

Bruno Mendes
eu me perco

eu me perco quando perco um amor, que se foi...
eu me perco quando ao lado de um amor, que sim, foi...
eu me perco quando me alegro e a alegria humilha a melancolia...
eu me perco quando melancolico, numa especie de ode à alegria...
eu me perco quando sou, e vou, e sigo em frente, sem olhar pra tras...
eu me perco quando fico, sinto e nao paro de saudar alguma antiga paz...
eu me perco quando escrevo rascunhos...
eu me perco quando desenho meu mundo, sem traço e coordenaçao...
eu me perco quando sei que um amor foi em vao...
e me perco quando assim mesmo amo, saudando outro amor de monçao...

eu me perco...

bruno mendes
certas palavras...



um ato de amor...
um ato de vingança...
um silencio que levanta...
calmaria que atormenta...
e tenta, com seus jogos sem pudor, trair a revolta em amor...
por mais que se deita e levanta, leva o sono, lagrima espanta...
por mais que se dê ou empreste-se à dor...
dor de amor, dor de dente, dor de alma, que no final é tudo dor que consagra...
a sensaçao de um corpo que está vivo...
dê as maos, laça a palavra, cata a palavra, inventa a palavra...
que o verbo é imune ao tempo e nao se apaga no vento...
certas palavras...

bruno mendes
o que vai de mim

minha fumaça exorta de mim meus fantasmas...
meu calor despudora o desejo que segue latente...
meu olhar revela um matiz de paisagem ausente...
minhas maos escrevem versos que nem sentem...
meus pés abrem valas que vao dar num continente...
incontinente que nem serpente... a me rodopiar e dar assovios...
minhas mazelas deixam os musculos al dente...
minha sorte vai ao longe, voa que nem gente...
gente é pra brilhar...
poesia pra restaurar... os cacos de mim quebrados com o dente...
e o verso só pra contrariar o amor que perdi, por nao saber amar...
o pedaço é a cola sempre a faltar e a cola, o colar...
que emoldura uma chama, que chama fixamente, a te buscar...
perambulando em meu caminho errante, sigo latente...
minha fumaça exorta de mim meus fantasmas...
em palavras que clamam por serem tao inocentes...
que nao centes...

bruno mendes
ESTOU EM GREVE DE SOFRER...
LUZ, KERO LUZ, SEI QUE ALÉM DAS CORTINAS SAO PALCOS AZUIS, DE INFINITAS CORTINAS COM PALCOS ATRAS...
ENTRO EM CENA...
PRA DEIXAR PRA TRAS OS ENSAIOS...
ENTRO EM CENA... PRA REPRESENTAR O QUE REALMENTE SOU... O QUE REALMENTE POSSO...
E CAMINHAR REALMENTE EM DIREÇAO AONDE QUERO XEGAR!

QUEM ME ACOMPANHA?


obrigado chico, por me deixar inspirar, por me deixar existir, nos sentimentos que descreves com os olhos que só seus olhos enxergam, o que ha em mim...
do que preciso

meio maço de cigarros...
meia caixa de bis... branco...
meia dose de humor, dose e meia de vida...
doses extras de adrenalina... de esperanças... de perspectivas...
se encaminham para o meu pulmao, as cinzas, o sabor, para minhas veias, o humor, para minha alma, a esperança para meus olhos e as perspectivas para meus horizontes...
e uma lagrima insiste em me entregar no fronte, nascida do roçar da garganta doce e enfumaçada...
mas um lugar, ao certo esta guardado, inside, insight, a se preparar para a faxina, e nao dessas de toda menina, que joga fora o esmalte com o vidro a contar gotas...
nao quero contar gotas...
quero gotas de bençaos, caindo como bençaos sobre mim...
e meio maço de cigarros...
e meia caixa de bis... branco...

Bruno Mendes
eu fico me perguntando

eu fico me perguntando: pra onde é que a gente vai quando nao está indo em direçao ao que quer?
eu fico me perguntando: pra que tanta contestaçao quanto aos desejos de homem ou mulher?
eu fico me perguntando: pra onde vai tanta malicia nas pessoas folgadas?
eu fico me perguntando: pra que tanta policia, se podemos desfrutar de um mundo ideal?
eu fico me perguntando: pra que tanta politica num mundo tao desigual?
eu fico me perguntando: pra que tanto amor se os afetos de torpor so duram um carnaval?
eu fico me perguntando: pra que tanto ensaio quando viver é o ato principal?
eu fico me perguntando: pra que tanto crack, se a droga da vida de quem usa ja os encaminha pro caos...
eu fico me perguntando: pra que acreditar no direito de fazer escolhas nas vidas alheias, isso nao soa tao amoral?
eu fico me perguntando: pra que fantasias e mascaras se o sorriso ja esconde o ator principal?
eu fico me perguntando: pra que tantas palavras quando nao cabem no papel os desejos de bem ou de mau?
eu fico me perguntando: pra que ferir os outros se nao é isso que queremos pra gente, afinal?
eu fico me perguntando: pra que ouvir tanto funk? se ha violinos afinados e tal?
eu fico me perguntando: pra que tanta burocracia, so pra disfarçar o preço do juizo final?
eu fico me perguntando: por que nao somos borboletas, que sao magicas larvas e larvas alimentam, num rapido desfecho para equilibrio do caos?

eu fico me perguntando.

Bruno mendes

aquilo que nao vem

a poesia que nao vem...
a pintura que nao vem...
a voz que nao vem...
o sentimento que socorre...
o sentimento que se acolhe...
o resultado que se colhe...
fruto da plantaçao...
tempestade em copo d'agua...
tempestade no himalaya...
tempestade do xmen...
tempestade no coraçao...
poesia é voz e pintura...
nao deixa de ser armadura...
pra encarar a contradiçao...
vivo nessa, vivo longe, protegido pela textura, da cara lavada por minhas maos...
voo nessa, voo longe, e as asas nao me levam mais ao fronte...
da batalha iniciada por meus doces delirios vaos...
vamo nessa, vamo longe, ate onde o arco iris se esconde...
encontrar o pote de ouro da realizaçao...
fica nessa, é seu o instante, mas nao é ainda o bastante pra responder sempre nao...
diga sim, rapaz, a essa moça, a esse moço...
e nao se amola tanto como faca caida no chao...
corta essa, se doa, curte a balada da sua solidao...
e mesmo sendo o esplanada um grande hotel, nao se encarcere nas grades paredes, solitarias do teu imenso bordel...
sai pra rua, vive a vida nua... e mete as caras sem medo de reparaçao...
repare-se...
repare-se...
pare-se...
recomece-se...
reinvente, tente, faça de voce diferente...
do que é, do que foi...
o que será?
medo, calunia, sorte ou angustia...

mas se da uma chance pra voar com os pes no chao...

Bruno mendes

descaminhos

meu caminho é meio perdido... meio encontrado...
meus pés são chatos onde andam sem minha condiçao...
meu perdido é encontrado... mesmo quando nao axado... nas memórias de minha garganta...
meu grito nao é mudo , é as vezes um murro, na esperança e desilusão...
meu silêncio é vertido, tantas vezes fedido, tantas vezes perdido, quando se cala em continência ou em contingência de profanação...
mas ele é assim mesmo, cheio de gritos, quando os dedos tomam partido e dizem por mim quando quero dizer não...
digam que pensem, que deixem, que falem, deixa isso pra la, vai digitar , o que é que tem, eu nao to falando nada , nem voce tambem...
que tal escrever assim gostoso com alguém?


bruno mendes