terça-feira, 3 de abril de 2012

Eu digo ao meu cachorro



Eu digo pro meu cachorro que, quando ele vier gente, pra não comer em demasia, se apreender de coisas saudáveis e amar as pessoas, ao longo do tempo, moderadamente, embora a cada momento de encontro nesse amor, que as ame, como se não houvesse amanhã.

Eu digo pro meu cachorro pra não ter pressa em ser gente, que gente cansa, porque abandona,  porque se cansa, como a gente, e desiste fácil, de construir algo, ainda mais se for difícil.

Eu digo pro meu cachorro pra respeitar as pessoas, sem reparar cor ou etnia, credo ou fantasia, sem olhar de onde vieram pra imaginar aonde isso vai dar.

Eu digo a ele, contudo, pra saborear a arte das palavras, tão enigmática, tão feroz que nos consome, no exercício do devir de representar ao que viemos... ao que somos... ao que nos propomos enquanto engenheiros sólidos das nossas pegadas ao ofusco do brilho de todas as manhãs, sempre muito mais belas do que eu posso criar. É frustrante não poder criar a vida, e saber que jamais, qualquer feito fará juz ao feito da criaçao. eu digo isso a ele.


digo a ele que salve o criador que carrega junto consigo, e crie com isso. e produza, as vezes, deixando os resultados a parte, a certo numero de passos pra nao contaminarem o seu fazer que fará tanto e no final, restará ainda tanto por ser dito ou feito.

Digo a ele que, através das palavras, amamos... amamos muito, e atravessamos seus significados pra acrescentarmos o nosso, como numa receita de bolo, a qual acrescentamos um pouco de  nós mesmos, numa quantidade que é segredo, particular, devastador.

Digo que de amor também adoecemos, a cada pedaço arrancado de nós, pelo tempo, pela saudade, pela morte, pela sorte... pela ilusão. E somos fáceis de trocar de amor... de paixões... mesmo nos casos dos mais loucos, desesperados do vazio fantasmagórico que recheia a imaginação de quem nunca sentiu-se amado...

Eu digo ao meu cachorro que evite os excessos, mas que se embriague deles quando lhe convier, e que abrace e diga aos amigos que os ama... isso é bom pra cachorro!

Eu digo a ele que, quando voltar, eu queria tê-lo como filho, e nossos abraços perdurariam por ai afora, no mundo das virtualidades que nos preenchem de estéticas, a perambular no tempo em fotos e vídeos de abraços e beijos, do primeiro sorriso,do primeiro banho, do primeiro passo, da primeira pegada, do primeiro tombo, do primeiro dente, do primeiro “papa, mama”, mas sobretudo, da primeira vez que me disser: “eu te amo!”, coisa que ele faz tão magistralmente, sem precisar dizer nenhuma palavra.

Eu digo aos poucos, pois nesse momento de gozo, de controlar meu destino e marcar encontro com o maior amor de toda minha vida, meu cachorro,  num futuro não muito distante, se pensarmos na extraordinariedade da linha do tempo, eu vos suplico:

- amem os seus cachorros, e não esperem deles que, nessa forma, repitam atos de ser gente, abandonando ou violentando com palavras, as mesmas que podem saborear ou devorar quem as assiste e se assiste delas com desejo sem freio.

E digo a ele pra vir brasileiro mesmo, que assim , poderá compreender através do seu dna, as significâncias da poesia que recheou esses versos, traçados em prosa, de olhos azuis que minha’lma acessam.

Preciso coxilar! - Bom coxilo, meu anjo.
Eu digo ao meu cachorro.