domingo, 28 de outubro de 2012

Réquiem do desespero



Assombroso
O repouso em permuta que não é silencioso
Pavoroso
O retorno da conduta de entregar-se ao tempo como tudo fosse novo
Um estorvo
E recomeça na labuta o medo, o dom e o fogo
Perigoso
Pra quem não sabe a chama de arder-se por não poder enaltecer-se
Por não conseguir encarcerar-se entre paredes e grades e muros e jogos
Fantasiosos
De atravessar a tez e a rua e não largar a fúria de acordar de novo
Noutro poço
Posso dizer quem sou  quando embalado num sonho e risonho
Num tormento doutro douto
E fatigar a espera contínua de adormecer sem ter por perto o outro
Que me roubo
E me lanço em vez de à luta à paz que abunda e me emana feito calor
Onde estou
Que não sei , não durmo, não levanto, não vivo, não grito e não morto
Me absorvo
Palavra que sai em vez de rima
Cavalgada que já não é tanto
E me espanto
Espanto pra la as sinas que me carregam e me velam com canto
Mas de mim não diz tanto
Digo agora que vou correr  mundo acima e acender velas pros santos
Acalantos
Cala cantos que inervam a pele que habita
E que não recita
O meu próprio pranto.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

abrigo



Hei, amigo, onde vais?

Vou me buscar pra la de la bem longe
E pra que voltar?
Sigo as setas, dobro as retas
Acho certas contas
Acerto as contas
dos caminhos a voltar

Me retirar esconde o que há de mim
se retirar esconde o que há de si
E não me verba, e nao te verbará
E ver os olhos rasos d’água
E soltar flechas como pedras nessas águas
Que insistem em te rodear

Amigo, sabe que o andar exige tréguas
Exibe paralelas que só servem pra cruzar
E que rusgas mais vais querer carregar
Bota esse peso no caminho e deixa o mundo te respirar

Pra que? Pra entorpecer de virgulas incertas
Pra deturpar as falas como rezas
Pra emudecer o que ainda tenho pra falar

Então fala
Solta a voz numa canção
Exala
Exílio íntimo não tarda perscrutar
escrutinio talvez seja o que eu diga
E a sílaba que muda é a que vai mudar

Ainda me resta pouco a pouco, gota a gota uma falácia
Que ainda me pego olhando a vida de pirraça
Contrariando o que não cabe nessa cela
De rimas fáceis, de caminhos que não leva
De muita coisa ainda tenho pra contar

Então me conta
Então me ilude com a linguagem descoberta
Quero saber por quanto tempo ainda resta
Esse meu verso que não tarda me será

Miséria
Inda é tão pouco que não cessa
Arrasta os dias, vai olhando pelas frestas
Fazendo festas para quem só sabe olhar


Espera um pouco, vê se me conta esse contato tão contigo
Cabe na linha o azul tão derretido
A tinta e a folha também podem ser abrigo
Borram, vem logo, me abrigar.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Todo Dia


 

Contas pra pagar, dinheiro pra pagar as contas
Dinheiro pra depositar e espalhar notas de gentileza
Chave no bolso para as portas fechar, e abrir
Fone no bolso pra comunicar com quem quer que queira me ouvir

Passos e esquinas para atravessar
Barulhos, silêncios, pra me confundir
Jornada, turno, abaloar
Da minha tarefa, que não tem sono

Vou e volto sem pestanejar
Nas minhas próprias cordas em que não me enforco
Uso-as para esperarem por socorro

Não corro, caminho, e a paisagem é que me escolhe
Vou na rua, na lua, na escola e no ponto
Digo ponto de cartão de ponto, trabalho, e pontuo agora, lá evem o ônibus.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

permuta


 
O que eu ainda não sei é o que há de correr para mim
Me abraçar como numa dança sem movimento, sem escape, sem fuga
O que eu ainda não sei é o que ainda não deixei de querer
E enfeitar a sala com o vazio do que virá, sentado em pose de rei

O que me lasca não é pedra, não é ponta, é tortura
O que me basta é o que arrepia a pele, o corpo, a luta
O que me resta é o grito que silencia meus segredos
E que ninguém escuta

O que eu faço pra desdizer e de ser
Não é lobby, é labuta
Ardo comigo na chama do meu capricho que não chora, mas soluça

O que eu tenho não sei esquecer, nem dizer, nem sei tudo
De um extremo ao outro há mais clientes pra agradar que uma puta
Me dê logo outro verso pra recomeçar e trocar angustia por palavra, em permuta.

Memorial de perdas





Diz-se que se perde quando se vai alguém
Diz que o que se perde não é tal alguém
O que se perde é outrem
Distante do que já se teve ou teria em returno

Houve-se  o que se perde
Em palavras que ecoam de dentro
E o sol sempre em movimento
Incinera o amanhecer

Tudo escuro, nudez, silencio, grito, sou mudo
Se tentar me reconhecer com palavras que levam de mim o mundo
Acento, tom, ritmo, nuance do meu plano de fundo

Vê-se que o que perdeu não foi parte, não encaixou, deixou furo
Enxerga-se o dia e a noite com olhos trocados e cores , confusos
O relógio está andando pra trás e aproxima cada vez mais meu rascunho, do meu próprio punho.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

certas horas


Certas horas a gente se sente assim, sem saber mesmo o que explicar
Certas horas me custam
Me custam o sono e a paz que na fumaça procuro
E me curo
Do medo de ensandecer a qualquer custo
E de dentro do muro, eu disse de dentro, não de cima
Eu sinto a ingratidão do movimento, tão alheio à vontade
Parado profundo
Maquinando
Maquinando o dia em que florescer e poder se mexer
E respirar e ir à forra com tudo
E brotar no mundo
Pela semente que passarinho comer e arrotar pelos fundos
E habitar outros solos e dar adeus com as raízes, como as misses
E ventar no talho de um vento que te mandará um beijo sedento de reencontrar seu ponto de origem

Uffa... viagem longa, cansativa...

No ponto de origem que dê-se aos ventos e levem em seus talhos
Sedentos de reencontrar e habitar outros solos, outras plantações
Pele que habita a semente que vai plantar no chão a marcha do caminhar
E brotar no mundo
E forrar de cetim as gentilezas que movem montanhas
Barato profundo
Maquinando poder olhar pra trás e agradecer
Não alheio à vontade
O muro...
Que deu vontade de conhecer o que te tinha detrás e asseguro
O custo de ser igual é ensandecer e me imputo
O direito de dar ESC em algumas portas e pular pela janela...
Certas horas me impurram...

...

eu me deito
eu me durmo
eu me desoriento
eu me entrego à fantasia como quem se entrega a um regalo, a uma delicia
eu me sonho
eu me presumo
com meus olhos me abro e me acordo
e me levanto, e me bebo e me fumo
e me como, me consumo como que por inteiro
e me absurdo
e me ando e me chego e meus passos deixam o que eu nao me resumo
e me rumo
e me rumo para alem de onde de se pode imaginar
para onde o sol incandescente do qual emana o desejo eclode em luz tornando minha noite diurna
e me insuma
e me invento palavras pra dizer o que nao sei, e assim continuo
nao recuo
e me desmorono e me faço em pedaços, e ouço chico e insinuo
na pele o gosto do que carrego eu sei que no vento distribuo
e me assumo
nao sei o que dizer e digo e faço e vou fundo
me resumo
me trocando em miudos que dividem cada vez mais meu tamanho
e distoo
distoo pra comentar e acabar
e me leito
e me durmo
a noite está prestes a começar e ha sempre uma luz que oeste orienta
e me enxugo
saí do banho, catarse, correndo para escrever e me incluo
pra se entorpecer de me tantos e nao reclamar de porre como ja fizeram tanto
e disputo
disputo com o sono pra finalizar esta frase
sem ponto
vou dormir e que se dane o resto, entro agora em meu proprio mundo
de coisas suficiente pra enlouquecer uma vaca louca
e muuuuuu...